Fortaleza

Dicionário de ruas

por Márlio Falcão, Manoel Falcão e Flávio Carneiro

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Um pouco de História

“Nosso grande defeito como povo e nação é o desdém pelo passado.

Ao ignorar o que fomos ontem, multiplicamos nossas mazelas

na política e na vida social, pois só o passado nos faz entender

o presente e preparar o futuro”.

(Flávio Tavares)

 

Muitos foram os trabalhos de pesquisa sobre as ruas de Fortaleza, quase sempre voltados para se relacionar “velhos nomes de ruas e praças” aos atuais, sem se preocupar com a legitimidade da homenagem, ou seja, com o merecimento desta ou daquela personalidade que se tornou patrono de uma rua, praça, travessa, ou avenida. Assim é que, s.m.j., exceto algumas personalidades mais conhecidas porque ligadas a fatos históricos, Fortaleza está cheia de ruas que receberam nomes de “ilustres desconhecidos” ou de personalidades que nada têm a ver com a nossa cidade, nem com o estado e nem mesmo com o país. É o caso, por exemplo, do Presidente Kennedy, que mereceu (?) constituir-se patrono de uma das mais importantes avenidas da Capital, além de denominar um bairro! O que fez este cidadão – que, diga-se de passagem, tinha Buenos Aires como capital do Brasil – pelo país ou pelo estado ou pela cidade de Fortaleza para merecer tal distinção? O que fez o Senador Robert Kennedy (irmão do Presidente Kennedy) para ser distinguido com o nome de grande avenida?

O fato assume enorme importância quando se percebe que inúmeras personalidades que efetivamente se destacaram na vida política ou social de Fortaleza ou do estado do Ceará, ficaram esquecidas, sem merecer tal distinção, ou foram em alguma época distinguidas, mas perderam a condição de patrono desse ou daquele logradouro, por conta de interesses políticos ou familiares ou eleitoreiros (Exemplo: Martim Soares Moreno, “Patriarca e Colonizador do Ceará”: a avenida que tinha o seu nome hoje se chama Avenida Coronel Carvalho; Padre Baltazar Correia, o “primeiro vigário do Ceará”: a rua que trazia o seu nome é hoje chamada Rua Seis Companheiros; Presidente Médici, que era patrono de uma avenida no Conjunto Palmeiras que hoje se chama Avenida Contorno…).


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Curiosidades

 A Lei Orgânica do Município, cuja reforma de 2006 estabeleceu que a denominação de ruas e avenidas seria procedida “ através de Decreto-Legislativo, em que a Câmara Municipal, além da denominação, aponta a sua localização, plotando-a em croquis”. A inovação foi importante pois o Decreto Legislativo, substituindo o projeto de lei, não comporta a participação, em sua elaboração, do chefe do executivo, sancionando ou vetando a iniciativa. Passou a caber à Câmara e tão somente a ela, a incumbência e a responsabilidade desta missão. Os únicos parâmetros legais vigentes naquele momento eram os do Código de Obras e Posturas, que, diga-se de passagem , nunca foram de fato observados.

Em 2012 foi aprovada a Lei complementar 109/2012 , instituindo critérios exaustivos para a denominação de bairros, praças, vias e demais logradouros públicos do Município de Fortaleza ,fixando definitivamente o marco legal para que o Poder Legislativo exercitasse a competência que lhe foi atribuída pela Lei Orgânica.

Inspirando-se no que existe nas mais bem administradas cidades do mundo do ponto de vista urbanístico, a Lei determinou a criação da Comissão de Toponímia Municipal para assessorar a Câmara na nomeação correta e acabar de vez com o caos que hoje impera.

 

Não só a Câmara Municipal de Fortaleza tem um órgão parecido. Para identificar mais facilmente as tempestades tropicais os nome são definidos pela Organização Meteorológica Mundial (WMO), que mantém listas já definidas com os nomes por ano e região, dependendo se a origem é no Atlântico ou no Pacífico.

A nomeação segue a ordem alfabética, então o nome do primeiro furacão do ano sempre começa com a letra A – as iniciais Q,U,X,Y e Z estão fora. Do início do século 20 até 1953 ,os furacões eram nomeados com uma letra .Daí até 1979,só com nomes de mulher.

 

A União Astronômica Internacional  é responsável pela “nomenclatura planetária”, os nomes oficiais que os astrônomos conferem a marcos ou formações na superfície de objetos cósmicos. As regras que regem esse sistema de nomenclatura são muitas e peculiares.

Uma das regras básicas é que nenhum nome com significado político, militar ou religioso pode ser utilizado, exceto por política ou deuses antigos. Exemplos disso não faltam, afinal, todos os planetas do nosso sistema solar (exceto pela Terra) receberam nomes de deuses ou deusas Greco-Romanos.

Caso queira ter seu nome oficialmente considerado para a toponímia de um objeto cósmico, é necessário que você seja “de elevada e duradoura reputação internacional”.

Além disso, você precisa estar morto há pelo menos três anos. Assim como as ruas de Fortaleza, alguns dos nomes nem são oficiais.

Antes do reconhecimento oficial, muitos objetos cósmicos são chamados por nomes não-oficiais. Eris, o planeta-anão que fez Plutão ser rebaixado, era “Xena” (sim, a princesa guerreira da TV) até a designação oficial.

Do mesmo modo, alguns objetos não são considerados importantes o suficiente para um título , geralmente por conta do tamanho. Esses acabam sendo apelidados pelos times responsáveis por suas descobertas. A lista dos estranhos nomes inclui “Space Ghost”, “Zorak”, “Marvin the Martian”, “Darth Vader”, “Indiana Jones” e “Cookies N Cream”.

As crateras de Marte que medem menos de 60km de diâmetro devem ganhar nomes de vilas do mundo com uma população inferior a 100 mil pessoas.

Os vales de Vênus com mais de 400km simplesmente são chamados de “Vênus”, mas em uma língua diferente. Exemplos: Apisuahts Vallis (na língua dos Blackfoot, um povo nativo americano), Citlalpul Valiis (asteca) e Kallistos Vallis (grego antigo). Vales menores, por outro lado, recebem nomes de deusas dos rios.

Absolutamente todas as partes de Vênus , de tesselas e chasmatas ao planeta em si , devem ter nomes de mulher.

A única exceção para a regra anterior é Maxwell Montes, um maciço de montanhas em Vênus que homenageia o físico e matemático James Clerk Maxwell. O nome foi aprovado no final da década de 1970, antes da lei de exclusividade feminina. As outras duas exceções são Alpha Regio e Beta Regio, duas formações nomeadas com as primeiras letras do alfabeto grego.

 

Cerca de 1360 ruas de Fortaleza têm denominações repetidas.

Entre as cerca de 3.200 ruas que receberam nomes de “pessoas” 175 são nomes repetidos e denominam 430 artérias.

Entre as artérias que não trazem nomes de ”pessoas” (nomes diversos, inclusive de santos e santas pela dificuldade de distingui-los daquelas com nomes de municípios) 270 são repetidos e denominam 933 ruas.

 

Das cerca de 3.200 ruas que trazem nome de ”pessoas” obtivemos dados biográficos de 1.463 (45,5%), inclusive local de nascimento, permitindo-nos produzir interessantes informações: Fortaleza “homenageia” cerca de 160 pessoas de 23 outros países, sendo 72 de Portugal e 30 da Itália. Os demais (58) representam outros 21 países.

“Homenageia” 392 pessoas de 20 estados brasileiros, sendo 73 do Rio de Janeiro, 47 de Pernambuco, 44 de São Paulo, 36 de Minas Gerais, 34 da Bahia, 32 da Paraíba e 32 do Rio Grande do Sul. As 94 restantes representam outros 13 estados.

“Homenageia”, ainda, 912 pessoas de 92 municípios cearenses, sendo 247 de Fortaleza, 59 de Aracati, 57 de Sobral, 31 do Crato e 30 de Baturité. Os demais representam outros 87 municípios.

 

Cerca de 325 ruas receberam nomes de santos e santas: 245 (ou 75%) trazem nomes de santos e 80 (ou 25%) trazem nomes de santas.

Das 245 ruas com nome de santos 30 (ou 12%) trazem o nome de São Francisco; 26 (ou 10,6%) trazem o nome de São José; 16 (ou 6,5%) trazem o nome de Santo Antônio; 13 (ou 5%) trazem o nome de São João; e 11 (ou 4,5%) trazem o nome de São Raimundo. As demais 148 ruas ou 60,6% trazem nomes de diversos outros santos.

Das 80 ruas com nomes de santas 11 (ou 13,8%) trazem o nome de Santa Maria; 8 ou (10%) trazem o nome de Santa Lúcia; 7 (ou 8,7%) trazem o nome de Nossa Senhora de Fátima; 7 ou (8,7%) trazem o nome de Santa Isabel; 6 (ou 7,5%) trazem o nome de Santa Luzia; 6 ou (7,5%) trazem o nome de Santa Rita; 6 (ou 7,5%) trazem o nome de Santa Clara. As demais ruas (40) trazem nomes de diversas outras santas.

Entre as ruas que receberam nomes diversos (que não “os de pessoas” ou de santos e santas), as de maior relevância são: Rua Verde (47 artérias); Contorno (19 artérias); Pedestre (18 artérias); Paz (12 artérias); Esperança (9 artérias); Paraiso (8 artérias); Boa Vista (8 artérias); Boa Esperança (7 artérias).

 

Há em Fortaleza grande número de ruas com nomes de pessoas vivas: Maria Luiza Fontenele, Padre (hoje Bispo) Aldo Pagoto, Adolfo Marinho, Padre Haroldo Coelho (falecido depois de feita a pesquisa), Atilano de Moura, Monsenhor Antônio Souto, Emerson Fitipaldi, Nelson Piquet, José Mogica, Lady Laura, Dom Cláudio Hummes, Porfírio Gomes, Oliveira Filho, Paulinho Paiakan, Allan Jones, Moroni Torgan, Mota Cambraia, Engenheiro Nereu Barreira, e outros que certamente há ainda por identificar.

 

 

A rua com o nome mais extenso em Fortaleza é a Rua Santa Terezinha do Menino de Jesus e da Sagrada Face, no bairro Cocó, seguida da Rua Engenheiro Agrônomo José Guimarães Duque, seguido de Rua Deputado Augusto Tavares de Sá e Benevides. A de menor extensão é a Rua Fé, seguidas de Lua, Mar, Sol, Fim, Céu, Eva, Eta, Juá.

 

Muitos são os nomes “esquisitos” encontrados entre os que denominam ruas em Fortaleza. (Entre eles destacamos alguns dos que mais chamam a atenção: Aparentemente, Aceal, Amanha ou Amanhã), Ambira, Alfa Conlab, Bons Amigos (denominação oficializada), Brunano, Bucane, Cambessa, Tratuí, Paisin, Piaulino, Tapetelene, Sefara, Seis Companheiros, Setema, Tapynaré, Taquaril, Saudaria, Leubba, Ledda, Magal, Senaria e Mada. E ainda foram propostos por Lei Ordinária nomes como Helena Petrovna Blavatsky e Jean Pierre Chalot, entre outros.

Martins Soares Moreno, “o colonizador do Ceará, o Patriarca”, imortalizado por José de Alencar em Iracema não denomina uma travessa sequer da nossa cidade!  Há tempos havia uma avenida que ligava os bairros Barra do Ceará ao Antônio Bezerra (chamada Avenida Soares Moreno), mas a denominação foi trocada (?) por Coronel Carvalho!

O Padre João Baltazar Correia, considerado “o primeiro vigário do Ceará” não denomina uma viela sequer de Fortaleza. Havia uma Avenida Padre Baltazar Correia no bairro Moura Brasil que foi aterrada na construção da Avenida Leste-Oeste (Presidente Castelo Branco). O nome do Padre Baltazar passou a denominar uma Rua na Barra do Ceará, rua esta que tem hoje o nome de Rua Seis Companheiros!

A Rua Professora Heloisa Ferreira Lima, no bairro Serrinha, tinha por patrono o governador (capitão-mor) João Batista de Azevedo Coutinho de Montauri. A Lei nº 6.375/1988 alterou a denominação e dedicou ao governador uma TRAVESSA no mesmo bairro!!!!!!

Conselheiro Pena (Afonso Augusto Moreira Pena), o 6º presidente do Brasil é patrono de uma TRAVESSA no bairro Álvaro Weyne, enquanto Paulinho Paiakan, Lady Laura, José Mogica, Atilano de Moura, Nelson Piquet e outros “ilustres homenageados” são patronos de ruas ou avenidas!!!!!!!

A Rua José Albano, no bairro Benfica, poeta, professor e diplomata, considerado “o maior e o mais belo poeta do Ceará em todos os tempos” teve sua denominação alterada – pela lei nº 4.571/1975 – para Rua Antenor (o nome correto é Atenor) Ferreira Wanderley!!!!!!

A Avenida Adonias Lima (poeta, escritor e jornalista renomado, membro da Academia Cearense de Letras), no bairro Aeroporto teve sua denominação alterada para Avenida Celso Tinoco (piloto do avião em que viajava o presidente Castelo Branco no acidente em que este perdeu a vida)!

A Rua Rúbia Sampaio, antiga Cambirinhas, tem por patronesse Rúbia Ruivo Sampaio e a homenagem foi feita por “tratar-se da mãe do então vereador Herval Sampaio.

A Rua Rosinha Sampaio, no Quintino Cunha, tem por patronesse Maria Rosa Bastos Sampaio, e a homenagem contempla a mãe do então vereador Antônio Bastos Sampaio. A Rua Dona Josefa Barros de Alencar, na Messejana , por sua vez, tem por patronesse a mãe do todo poderoso à época, José Barros de Alencar,várias vezes presidente da Câmara Municipal.

A Rua Dona Mendinha, que atravessa os bairros Cristo Redentor, Álvaro Weyne e Floresta, leva o nome de Maria Alves de Carvalho (Dona Mendinha), esposa do Coronel Carvalho, o mesmo cujo nome substituiu a denominação da Avenida Soares Moreno, “o desbravador e colonizador do Ceará”.

 

Autores


Márlio Falcão
é formado em Agronomia pela UFC em 68. Ingressou no IBGE em 73 como Analista Especializado para dirigir o GCEA-CE e SEAGRO, órgãos responsáveis pela previsão de safras do Estado e a chefia do SEAGRO, permanecendo até 85 quando foi designado para o cargo de Delegado Adjunto, da Instituição.

Em maio de 94 assumiu a direção do Órgão nos estados do Ceará, Piauí e Maranhão. Publicou vários livros sobre a genealogia e a toponímia dos municípios nordestinos: “Pequeno Dicionário Toponímico do Ceará”; “Pequeno Dicionário Toponímico da Bahia”; “Fortaleza em preto e branco”; “Ciará terra do Sol”; “Gentílicos Nacionais e Internacionais”; “Dicionário Toponímico, Histórico e Geográfico do Nordeste”. Diplomado pela Escola de Formação de Governantes , é Sócio Benemérito da Cooperativa de Cultura do Ceará (Coopcultura). Participa diariamente do Programa Narcélio Limaverde na Rádio FM 96.7 da Assembleia Legislativa do Ceará no quadro “Por que minha rua tem nome de político?” e “Minha rua tem estória”. É autor ainda da coletânea “Ruas e Avenidas de Fortaleza e seus patronos”.

 

 

Manoel Falcão é Advogado, formado em Direito pela UFC, onde também cursou Ciências Sociais e pela escola de formação de governantes, é especialista em Processo e Técnica Legislativa tendo sido,no período de 1992 até 2016,Assessor Parlamentar, Diretor de Plenário, Coordenador Geral Legislativo, Ouvidor Geral e Presidente da Comissão de Toponímia da Câmara Municipal.

Foi também consultor da Assembléia Legislativa e Assessor Especial de Articulação Política da Prefeitura de Fortaleza. Em 2006 foi homenagedo pela Câmara Municipal com a medalha do Mérito Legislativo pela trabalho desenvolvido como integrante da Comissão de revisão da Lei Orgânica do Município de Fortaleza.

 

 

 

Flávio Carneiro é Engenheiro Computação formado em pelo IFCE(Instituto Federal de Ciência e Tecnologia). É servidor público municipal há 4 anos, trabalhou na Célula de Tecnologia da Informação da SEFIN (Secretaria de Finanças do Município de Fortaleza) e na Câmara Municipal de Fortaleza como Desenvolvedor Web, atualmente é Administrador de Banco de Dados e trabalha com Business Intelligence no IPLANFOR (Instituto de Planejamento de Fortaleza), sendo responsável por realizar integrações de dados através de rotinas de ETL que alimentam sistemas de BI e de georeferenciamento.

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